sexta-feira, 2 de novembro de 2012

O vício

As flores que nossa alma descuidada
Colhe na mocidade com mão casta,
São belas, sim: basta aspirá-las, basta
Uma vez, fica a gente enfeitiçada.

Nascem num prado ou riba sossegada,
Sob um céu puro e luz serena e vasta;
Têm fragrância subtil, mas nunca exausta,
Falam d'Amor e Bem à alma enlevada...


Mas as flores nascidas sobre o asfalto
Dessas ruas, no pó e entre o bulício,
Sem ar, sem luz, sem um sorrir do alto,

Que têm elas, que assim nos endoidecem?
Têm o que mais as almas apetecem...
Têm o aroma irritante e acre do Vício!


(Antero de Quental)

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A bela verde, quando chega à terra, sente um choque. A poluição do ar, a poluição sonora, os alimentos tóxicos, a falta de água natural, todos são fatores que lhe causam estranheza. Ou seja, ainda não estava habituada a conviver com tudo isso, ainda não estava "viciada".

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