quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Max e o motorista

Parte do diálogo dessa cena, um quase monólogo de Max [trad. nossa]:

-[Max] É horrível o que te aconteceu!
-[Condutor] O quê?
-[Max] Eu disse "é horrível o que te aconteceu!" 
Na terra há quatro caras em cinco que morrem de fome. Há os que vivem em cavernas por causa de bombas. Os que apodrecem de câncer e de aids nos hospitais. E há mulheres que são violadas por quatro caras ao mesmo tempo para que saibam melhor quem é o chefe. E há você! E te aconteceu uma coisa horrível! Nós encostamos no seu retrovisor!
-[Condutor] Meu senhor, acalme-se, meu senhor.
-[Max] Há as árvores acima de você, com folhas que se mexem com o vento. Já olhou para as árvores? Há a sua mulher, que é bela e que perde a juventude te cozinhando creme de cogumelos enquanto você a trai. E os seus filhos com a pele macia e bela. Já agradeceu alguma vez na vida pela pele macia dos seus filhos? E há as vacas que te fazem leite, manteiga e queijo todos os dias, já disse "obrigado" às vacas?!!!
-[Condutor] Mas você esta louco, meu senhor?
-[Max] Ela é bela, sua vida é bela, meu caro. Ela é bela, bela, bela pra valer. Mas, nossa!, o problema é que encostamos no seu retrovisor. É horrível! horrível!


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Considero essa uma das melhores cenas do filme. O motorista (à esquerda da foto) fica furioso porque o carro conduzido por um dos filhos da bela verde toca o retrovisor de seu carro. Ele não se mostra em nem um momento disposto a ouvir os pedidos de perdão de Max, que chega a postar-se de joelhos. Ele só repete insistentemente: "idiota", "idiota", "idiota".  Max não resiste à investida agressiva do motorista e solta o verbo num discurso inflamado. A partir daí o motorista já começa a mudar a sua postura. Para completar, ele sofre ainda uma dupla desconexão (Mesaje e Mesaul o desconectam). Curiosamente, seguido ao seu rompante de violência, o motorista, após a desconexão, é capaz de pronunciar apenas duas palavras, são algumas das ditas "palavrinhas mágicas": perdão e obrigado. Também não é à toa escolher essa situação, um "problema" de trânsito, para exemplificar um momento de explosão raivosa. Isso já é um fato corriqueiro e bem conhecido em muitas sociedades. Eu até hoje tive apenas um problema andando de bike por aí, e até hoje não entendo porque o motorista de um carro olhou nos meus olho e disse, vagarosamente, de boca cheia, "seu iiidiiiooota!". Confesso que eu não estava de todo certo, mas ele também não. A ofensa dele não serviu pra nada. Se fosse outro, retrucava o xingamento, o que também não iria acrescentar nada ao "problema". Eu sorri, pedi desculpas, e continuei ouvindo meu Doors.

Júnior Vidal

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A cena em questão:

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